Por Ziad Fares
Nos últimos 10 anos, quando a internet se transformou na principal ferramenta de trabalho e entretenimento no mundo, muitos especialistas em comunicação começaram a decretar, com afinco, a morte da televisão. Este tipo de anúncio vem sendo feito por muitos acadêmicos há quase meio século e, até hoje, ninguém conseguiu acertar essa previsão.
O que muitos avaliam como fim, eu vejo como períodos cíclicos de renovação que são fundamentais para garantir a continuidade de qualquer modelo de comunicação em massa. É bem verdade que a TV precisou se reinventar nos últimos anos para conseguir manter um público que não consegue mais ficar 5 horas sentado na frente de um aparelho no domingo assistindo programas de auditório, com atrações intermináveis.
Com mais possibilidades, principalmente com o advento das plataformas streaming, os telespectadores começaram a dividir seu tempo entre os meios de informação e entretenimento, experiência que foi facilitada com as melhorias da internet e da popularização dos smartphones. Mas se há algo que demonstra o quanto a TV está viva é que até mesmo as plataformas de streaming têm cada vez mais anunciado nas TVs, sinal que este é um meio eficaz para se alcançar o potencial público consumidor.
Mas a TV demonstra que está viva quando em programas como o Big Brother Brasil, que neste ano chegou em sua 21ª edição, consegue criar uma fila de anunciantes, com 8 gigantes do varejo como patrocinadoras principais, além de recordes históricos de audiência e por vezes, patrocinadores inseridos na própria narrativa do programa, tornando o anúncio ainda mais criativo e atrativo.
O que tem provocado esse fenômeno que mantém a televisão tão viva quanto nunca? A resposta se resume à interatividade. O telespectador não é mais apenas o receptor da mensagem, agora ele ajuda a produzir a mensagem e tem poder, inclusive, de aprová-la ou não.
Se a televisão simplesmente desaparecesse hoje, as pessoas não saberiam o que fazer da própria vida. E o mesmo aconteceria se sumissem o smartphone, o rádio e o que mantém tudo isso vivo: a propaganda.
O mercado publicitário em meio a este cenário em constante mutação simplesmente manteve um padrão histórico de investimentos que aporta na televisão mais da metade de todos os recursos que administra. Dados da CENP (Conselho Executivo das Normas Padrão) demonstram que de janeiro a setembro de 2020 foram investidos R$ 4,8 bilhões na televisão aberta, isso significa 57,9% do que foi investido em publicidade.
A internet ficou em segundo lugar no nível de investimento, com R$ 3,7 bilhões, o que representa 21,2% do montante investido. E essa diferença se justifica porque a TV é um aparelho presente em 97,2% das casas brasileiras. E por mais que o Brasil tenha mais aparelhos celulares do que população, sendo aproximadamente 250 milhões de smartphones em 2020, segundo a FGV, o acesso à internet ainda é uma situação precária, já que um a cada quatro brasileiros não têm acesso à rede, conforme aponta o IBGE.
Por isso, reforço a constatação de que os meios de comunicação são complementares e que ousar decretar a morte de algum deles é oportunismo que não encontra correspondência com a realidade. Os consumidores estão em todos os lugares, assistindo, lendo, ouvindo, interagindo e demonstrando mais uma vez que o que importa de fato é o poder de atração da mensagem e não o meio em si.
Portanto, com toda certeza posso anunciar: a televisão está viva e passa muito bem, obrigado.
*Ziad Fares é empresário, publicitário e diretor-presidente do Grupo ZF Comunicação. Contato: ziad@zfcomunicacao.com.br