O adolescente cuiabano João Guilherme Carvalho, 16 anos, embarca no mês de julho rumo ao Reino Unido. Poderia até ser uma viagem de férias, mas o jovem fará algo um pouco diferente: ele foi selecionado para estudar na modalidade summer camp (curso de verão, em tradução livre) da Universidade de Oxford.
E, ainda que seu destino seja o país britânico, João finalizou neste mês um outro summer da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ambas as instituições, vale lembrar, estão entre as melhores do mundo. No curso finalizado agora, o jovem inclusive ficou em primeiro lugar na atividade final.
Os feitos são apenas alguns dentre tantos outros conquistados por João Guilherme ao longo de seus 16 anos. Um deles, por exemplo, foi terminar o Ensino Médio aos 15 anos de idade. Outros, seus pais, Eduardo Carvalho e Karine Kido Carvalho, lembram, sempre tiveram relação com uma capacidade intelectual para além de sua idade.
“Ele começou a sentar aos quatro meses de vida. A falar, aos 5 meses, idade que também começou a engatinhar. Com um ano, falava muitas palavras em inglês. Já na adolescência, João, que sempre foi um leitor voraz, terminou a Divina Comédia em 4 horas, um livro de mais de 700 páginas. A descoberta da superdotação, no entanto, veio apenas durante a pandemia, quando as aulas passaram a ser online e ele terminava tudo com muita rapidez”, conta a mãe de João Guilherme.
Foi a escola, aliás, que auxiliou no primeiro momento. “Tivemos uma percepção inicial da escola, somada à nossa busca por profissionais que atendessem superdotados. Aí começaram os desafios, já que são raros por aqui. Tivemos que buscar fora”, conta Eduardo Carvalho.
Hoje, a família já sabe que o QI de João Guilherme é de 140 – no Brasil, a média é de 83 – e que dentre as habilidades obrigatoriamente avaliadas dentro deste perfil, o jovem possui todas afloradas. “O que nós fazemos é garantir que ele conte com um acompanhamento direcionado e específico, que faça com que possa se desenvolver plenamente. É por isso, por exemplo, que terminou antecipadamente os estudos no Ensino Médio”, completa a mãe do jovem.
Agora, o objetivo de João Guilherme é uma graduação em uma universidade fora do país, já que os cursos de verão, como o nome sugere, são considerados cursos de extensão e de curta duração.
Superdotado: como saber?
A psicóloga clínica Carolina Vieira Cabeda Maia alerta que a precocidade de crianças não necessariamente significa uma superdotação, mas que é possível que pais e responsáveis percebam desde cedo algumas características.
“Muitas crianças superdotadas atingem marcos do desenvolvimento motor e de linguagem mais antecipadamente quando comparado a outras crianças da mesma idade. Além disso, algumas outras características podem ser observadas como: uma boa capacidade de memorização, busca de soluções criativas para problemas do dia a dia, alta capacidade imaginativa, facilidade de aprendizado, sensibilidade, curiosidade, perfeccionismo e preferência por pares e companhias mais velhas. Se existem casos de superdotação na família, também é um sinal importante para estar atento a estas características”, explica.
A profissional também afirma que, ao notar estas características, é preciso ajuda profissional, uma vez que a criança ou jovem pode entrar em sofrimento.
“É muito importante buscar ajuda de um profissional especializado, como um neuropediatra, psiquiatra infantil, psicólogo, neuropsicólogo ou psicopedagogo que tenha conhecimento acerca da superdotação para compreender mais a fundo os comportamentos apresentados. É válido lembrar que a superdotação não é um diagnóstico, transtorno ou doença, mas sim uma condição que leva a um funcionamento cognitivo e socioemocional diferente. Apesar de existirem características comuns a muitos superdotados, cada superdotado é um, e buscar ajuda para compreender as necessidades de cada criança é uma atitude muito importante para prevenir maiores dificuldades na fase adulta”.