Por Rafael Fares
Existiu uma espécie de alívio quando Neymar marcou aquele gol contra a Croácia. Esperança, euforia, sentimento de que o sonho pelo tão esperado hexa estava mais próximo. Sabemos o resultado daquele jogo e também da frustração que se instalou.
Esse sentimento vem desde 2014, com o 7×1, para a Alemanha. Depois, em 2018, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final na Copa da Rússia.
Sim, é bem verdade que não aguentamos mais esse jejum que já completou 20 anos, e que esperamos não ultrapassar o próximo mundial em 2026.
Mas o que acredito ser injusto é quando nossa frustração se reveste da falta de empatia para fazer das críticas uma arma, que é incapaz de reverter a história.
Digo isso porque vi, ouvi e li muitas opiniões massacrantes feitas pelos comentadores profissionais e também pela opinião pública. Não estou dizendo que estejam erradas, mas talvez ultrapassaram a barreira do bom senso, buscando atribuir a um ou a outro o resultado negativo da seleção.
Historicamente somos um país apaixonado pelo futebol, que sempre chegou às Copas entre os preferidos para a vitória. Mas apesar do futebol ter se transformado em uma importante indústria, que movimenta cifras bilionárias, também tem seu aspecto humano e psicológico.
Digo isso com propriedade, afinal tive a oportunidade de jogar profissionalmente por 10 anos, começando minha carreira ainda adolescente, quando tinha 13 anos de idade. Passei pelo Cruzeiro, Guarani, PSTC e depois cinco anos na Itália.
Deixei o futebol porque sofri uma lesão no joelho, e então, sem condições para continuar no esporte, fui obrigado pelas circunstâncias a seguir outro destino. Hoje, futebol é uma paixão e um hobby, que me ajuda muito tanto no aspecto da saúde física quanto mental.
Do período que joguei profissionalmente aprendi valiosas lições, e uma delas é que o profissionalismo em campo não anula as emoções quando se entra em jogo, o que se intensifica com a pressão psicológica, o fervor da torcida, e uma série de outros sentimentos que são potencializados pela adrenalina.
Então, entendo quando os críticos mais ferrenhos atacam os jogadores ou responsabilizam o treinador pelo resultado no jogo eliminatório. Apesar de tudo, será que não esperamos dos jogadores e do técnico um comportamento mecânico, um resultado sem falhas, a incapacidade de errar? Acredito que isso seja exigir demais ou até mesmo fantasiar algo que não é previsível. Jogo é jogo.
Não quero dizer que falhas não possam ser corrigidas, mas agora, que os ânimos já começam a se acalmar após a derrota, talvez seja hora de olhar para o outro lado da moeda, e até mesmo deixarmos de lado certos sentimentos que não ajudam a ninguém.
Acredito que esse momento é valioso, pois podemos aprender a lição de que na vida nem tudo é vitória, mas que o importante é jamais deixar de jogar, de fazer a nossa parte e de construir algo melhor. Esse é um ensinamento que tento ensinar para o meu filho de quatro anos.
E talvez a principal lição que podemos aprender enquanto adultos é jamais perder a esperança, que aliás essa é uma marca também do nosso povo, conhecido por não desistir nunca. O futebol, principal esporte do Brasil, continuará sendo uma paixão irrefutável. Daqui quatro anos espero me emocionar com o tão esperado hexa! Por enquanto, não tenho dúvidas, a derrota é uma grande lição!
Rafael Fares é empresário e ex-jogador de futebol.