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Evite as montanhas de lixo têxtil

Artigos de Opinião / Publicado em 20.março.2023

“Lixo do mundo”. Assim foi chamada a montanha de roupas acumuladas em pleno deserto do Atacama, no Chile, e divulgada em novembro de 2022. As imagens da quantidade quilométrica de vestuários em pleno deserto rodaram o mundo e chamaram a atenção para uma pauta antiga e urgente: o descarte têxtil.

Para se ter uma ideia, só o Brasil gera anualmente cerca de 170 mil toneladas de lixo têxtil. As montanhas chilenas, aliás, não são originadas naquele país. Conforme reportagens da época, ali existem roupas descartadas pelos Estados Unidos, Europa e Ásia e que supostamente seriam revendidas. E não foram.

Mas, diante de um problema global, há o que fazer localmente? Atuando nesta indústria há mais de 20 anos e sendo a terceira geração de empresários à frente da empresa mato-grossense Casa Prado, posso dizer que sim.

Sempre tivemos como missão atuar de forma responsável social e ambientalmente. O que hoje é chamado de “negócio de impacto social”. Ou seja, está em nossa missão o compromisso de que nossas ações, projetos ou iniciativas tenham como foco a transformação social e ambiental, mas também a geração de emprego e renda.

Foi assim, por exemplo, que surgiu o projeto Costurando Sonhos, uma parceria com a Associação Anjo Miguel. Nossas roupas em desuso ou nossos retalhos de alfaiataria que antes teriam como fim o descarte, agora têm ganhado novos significados pelas mãos de costureiras do bairro Jardim Glória II, em Várzea Grande.

São seis mulheres que têm aprendido desde o ano passado a técnica e a prática do corte e costura com uma instrutora da Casa Prado. Nós temos realizado ao lado delas dois grandes sonhos: gerar conhecimento em um local com alto índice de vulnerabilidade, dando oportunidade para que essas mulheres tenham uma profissão que oportuniza renda, e também trazendo benefícios ao meio ambiente.

Hoje, o que antes era lixo têxtil se transforma em bolsas, mochilas, carteiras, porta-óculos, nécessaires, estojos e lixeiras para carro. Todos estes itens são comercializados em nossas lojas e 100% da renda é revertida para o projeto. O Costurando Sonhos é nossa menina dos olhos porque possibilita a essas mulheres a autonomia financeira e, também, reforça nosso compromisso de cuidar do meio ambiente.

Mas também temos outros sonhos dos quais nos orgulhamos. Desde 2012, desenvolvemos ações com a Associação de Amigos da Criança com Câncer (AACC-MT), por meio de doações de produtos e auxílio no MC Dia Feliz anualmente.

Desde 2019 já recolhemos 1219 kg borras de café que utilizamos em nossas lojas e transformamos em adubo para a Horta Estrela, bem como desenvolvemos o “Papa Pilhas”, programa que já recolheu 1.100 pilhas e 154 baterias para o descarte correto.

A Casa Prado também é parceira do Projeto Lunaar, com recolhimento de aerossol para que a organização revenda e auxilie nos cuidados dos animais abandonados; e do Tampatinhas, em que recolhe tampinhas para que a instituição possa revender e fazer a castração de animais. Já foram recolhidos, desde 2019, 1.286 unidades de frascos de aerossol e, no caso do projeto Tampatinhas, a Casa Prado recolheu, desde 2020, 50 kg de tampinhas de plástico e anéis de lata de bebidas.

Uma outra ação de sucesso desenvolvida em 2022 é a “Cores do Pantanal”, em que uma coleção de camisetas exclusiva com estampas da fauna pantaneira teve parte das vendas revertidas para a ONG “É o Bicho”.  Além destes projetos, a Casa Prado participa do movimento Sou de Algodão, que nasceu em 2016 e estimula a moda responsável. Na prática, o movimento traz transparência e sustentabilidade em todas as etapas da cadeia produtiva da indústria têxtil.

Todas estas ações e projetos têm como objetivo o desenvolvimento econômico, social e ambiental. É só assim que reduzimos as desigualdades sociais e de acesso. E é só assim que transformaremos realmente a vida das pessoas e reduziremos as montanhas de “lixo do mundo”.

 

*Geraldo José do Prado é CEO da Casa Prado.